John H. Kennell, médico pediatra e investigador, 1991
Uma doula é:
um profissional com formação específica na gravidez, no trabalho de parto, parto e pós-parto
presta apoio contínuo, físico, emocional e informativo às famílias
fornece informações baseadas em evidência cientifica, sempre que possível
ajuda as famílias a expressar os seus desejos e a gerir expetativas, para vivenciarem de forma mais leve e positiva a adaptação a esta nova fase da vida
apoia na elaboração do plano de parto e do plano de pós-parto, tendo por base decisões informadas e conscientes
Durante a gravidez:
Acompanha durante a gestação através de apoio emocional, esclarecimento de dúvidas e procura de informação. Ajuda também a planear e desmistificar o trabalho de parto e puerpério (pós-parto).
Durante o Trabalho de Parto:
No trabalho de parto, a doula está ao lado da mãe criando uma esfera de proteção e confiança que facilita a progressão do trabalho de parto. A doula poderá propor medidas de conforto como duche ou banho, toque de conforto, relaxamento ou respiração profunda. A doula apoia também o pai/pessoa significativa e mostra como poderão ser úteis e mais participativos, se for esse o seu desejo.
Quando o parto decorre no hospital, a doula é a única profissional que garante assistência personalizada e contínua à parturiente, funcionando também como um elo de ligação entre a equipa de atendimento e o casal. A doula explica os termos médicos e os procedimentos hospitalares, visando sempre proteger a experiência emocional do parto para a mulher/o casal. A doula não executa atos médicos nem perturba a equipa médica, sendo sempre que possível diplomata nas suas ações.
No Pós-Parto ou Puerpério:
A doula também presta serviços no pós-parto, nomeadamente no que respeita aos cuidados a ter com o recém-nascido, apoio na amamentação, adaptação da família a um novo elemento ou realização de pequenas tarefas domésticas (caso a doula disponibilize este serviço).
A doula não efetua qualquer procedimento médico, e portanto, não substitui qualquer dos profissionais tradicionalmente envolvidos na assistência ao parto. A doula não deve perturbar o ambiente domiciliar nem hospitalar por razões pessoais ou outras. A equipa precisa de sentir que a doula é um elo de ligação e uma mais-ajuda ao processo e não uma perturbação ou entrave.
A presença da doula produz um clima de intimidade, carinho, afeto e, acima de tudo, segurança.
As mães relatam uma experiência de parto mais satisfatória e gratificante, sentem-se mais fortalecidas, apresentam níveis mais baixos de ansiedade e níveis mais elevados de atenção e recetividade para com o seu bebé. O risco de depressão pós-parto também é diminuído. Tudo isto favorece o vínculo precoce entre ambos.
Os benefícios para o bebé também são evidentes. O risco de complicações e de internamento prolongado é diminuído, favorece-se o sucesso da amamentação e o reforço do vínculo mãe/pai/cuidadores e o bebé.
No que concerne à equipa médica, a doula contribui também para a diminuição da sua ansiedade, da pressa, dos receios e de todas as intervenções médicas daí decorrentes.
A presença da doula ajuda a grávida a perceber qual a melhor altura para se dirigir ao hospital/maternidade, evitando que essa deslocação se realize demasiado cedo (processo que pode desencadear a trilogia stress/tensão/medo).
A entrada no trabalho de parto ativo e a chegada ao ponto de não retorno (a partir da meia dilatação) asseguram e firmam a confiança da parturiente e da equipa médica. Optar por ter uma doula é, muito provavelmente, a decisão mais importante que uma mulher pode tomar durante a gravidez para tentar viver um parto humanizado.
Inicialmente seis trabalhos controlados aleatoriamente confirmaram os benefícios do trabalho das doulas. Destes seis estudos, dois foram realizados na Guatemala (um com 136 mulheres e outro com 465 ). Os restantes estudos foram realizados no Texas (com 416 parturientes), em Johanesburg, África do Sul (com 192 parturientes), na Finlândia e no Canadá. Todas as participantes do estudo eram primíparas, saudáveis e tinham tido gravidezes sem qualquer problema médico. Foram selecionadas para participar no estudo aquando da admissão no hospital, apresentando-se já em trabalho de parto.
As doulas da Guatemala foram treinadas num curso de três semanas, mas as da África do Sul eram mulheres sem qualquer treino. Todas foram orientadas a permanecer constantemente ao lado das grávidas, utilizando verbalizações e toque e tendo como foco três fatores primários: conforto, confiança e reforço das capacidades. Todas as doulas deste estudo haviam tido a experiência prévia de trabalhos de parto normais e partos vaginais.
Os resultados do estudo revelaram que quando se tem uma doula há:
50% de redução nas cesarianas;
25% de redução na duração do trabalho de parto;
30% de redução no uso do fórceps;
40% de redução no uso de ocitocina;
60% de redução no uso de analgesias epidurais;
30% de redução no uso de medicação para dor.
Além disso, outros resultados positivos foram acrescentados, a saber:
Aumento nas taxas de amamentação;
Diminuição dos índices de Depressão Pós-Parto;
Aumento da satisfação materna;
Reforço da interação mãe-bebé.
A Biblioteca Cochrane de Medicina Baseada em Evidências deixa muito clara a importância das doulas para a melhoria dos resultados obstétricos, demonstrando que a assistência oferecida pelas doulas é sustentada por evidências claras e inquestionáveis:
“Levando-se em consideração os claros benefícios e a ausência de riscos associados com o apoio durante o parto, todos os esforços devem ser feitos para assegurar que qualquer mulher em trabalho de parto receba suporte contínuo, não apenas daqueles próximos a ela, mas também de profissionais treinados. Esse suporte deve incluir presença contínua, conforto pelo toque e encorajamento”.
Os estudos de Klaus e Kennell referidos acima comprovam que não há risco algum em ter um acompanhante de parto. Antes pelo contrário, os autores verificaram que são muitos os benefícios deste acompanhamento, tais como a redução da duração do trabalho de parto, menor perceção da dor, maior satisfação das mulheres, menos taxas de cesariana, entre outros.
Depois destes estudos, centenas de outros já foram realizados, demonstrando claramente que o apoio contínuo oferecido por uma doula traz todos os benefícios à parturiente e até à equipa médica e de enfermagem.
O parto é um evento social, afetivo, físico, espiritual, sexual e emocional, e no ambiente desconhecido e mecanizado dos grandes hospitais assiste-se a um incremento de medo, ansiedade e dor, que estão profundamente interligados. Daí a necessidade de considerar o apoio emocional, afetivo e funcional à grávida em trabalho de parto.